O Jardim
O Jardim das Nascentes com cerca de 3,5 ha, encontra-se integrado na Reserva Ecológica Nacional e no Corredor Verde Urbano da cidade.
Com importância estratégica a nível concelhio, constitui um continuum entre a parte antiga da cidade e a expansão urbana para nascente, com preservação dos valores ambientais, paisagísticos e hidrológicos a fim da diversidade ecológica.
A antiga quinta sempre teve uma função biofísica de regulação da bacia hídrica a montante. As duas linhas de escorrência de águas pluviais provenientes de norte, encaminhavam-nas para o rio, e o sistema de retenção de água da bacia natural permitia infiltrar alguma água no solo, diminuir o caudal e velocidade de escoamento, evitando as cheias para jusante. É o motivo pelo qual se preserva no jardim tanto as linhas de água, como a bacia de retenção. Nas margens das linhas de água foram plantadas espécies características de galerias ripícolas para consolidação daquelas, e após erradicação de vegetação infestante de Arundo donax (canas) que impedia o escoamento da água. Na bacia de retenção, foi semeada uma área relvada, encharcável que atraí os pássaros, e que pode ser usada para recreio nas épocas secas.
Atendendo às questões hídricas também foi acautelado que grande parte das áreas pavimentadas fossem permeáveis, recorrendo por isso a gravilhas e betão poroso. Para além da importância ecológica no território e na malha urbana, o Jardim das Nascentes foi projetado como espaço cénico, recreativo e paisagístico da Casa da Música.
Num movimento do romantismo e inspirado pelo quadro de Miró “interior holandês I” (uma reinterpretação do “tocador de alaúde” de Hendrick Sorgh), foi projetada a planta do jardim. Esta é uma alusão à temática da Casa da Música: a cabeça do tocador foi desenhada no pavimento com repuxos de água e com área de estadia; o corpo forma a bacia de retenção; e o alaúde constitui a praça, percurso com feixes de luz e uma área plantada com a forma da mão a tocar; a cabeça e corpo da mulher formalizam as duas zonas de jogos equipadas; e o filamento negro do quadro constitui o percurso deambulativo até ao lago.
Concetualmente, houve uma rutura entre o que era o uso da quinta (onde foi descoberto um poço durante a obra e que se recuperou como reminiscência do local) e a do jardim, o que se traduz numa imagem diferenciada do espaço. Este foi pensado com uma rede de percursos para passeios contemplativos pelo jardim, jogging, bicicletas, com ligação a norte e poente à ciclovia; bancos para estadia; jogos de música, de xadrez e damas; jogos de água; área para pequenos espetáculos com anfiteatro exterior; praça polivalente que serve de auditório e eventos diversos, workshops, quiosques; áreas de recreio informal, e áreas verdes de enquadramento e proteção onde se podem encontrar diferentes estratos de vegetação como por exemplo freixos, salgueiros, ruscus, medronheiros, lodão, pilriteiros, liliodendro, pimenteira-bastarda, oliveiras, etc.
A maturidade de um jardim demora pelo menos 20 anos, e vai-se observando o seu uso, apropriação e vai-se ajustando às necessidades que surgem, vegetação que é substituída, áreas que se pavimentam, limites que se constroem, um jardim é um projeto em processo.
No âmbito do programa das comemorações do 83.º aniversário do nascimento do Maestro Jorge Peixinho, a Câmara Municipal do Montijo procedeu, no dia 20 de janeiro de 2023, à inauguração de um Mural de Arte Urbana intitulado “Os Sons da Natureza”, da autoria do artista Asur, no muro visível, na fachada envolvente ao Jardim das Nascentes e à Casa da Música Jorge Peixinho.
Avenida António Mourão - Jardim das Nascentes
2870 Montijo