Vemos, Ouvimos e Lemos
VEMOS, OUVIMOS e LEMOS é o nome da rubrica de divulgação e promoção da Biblioteca Municipal do Montijo. Tomando como mote os versos militantes de Sophia de Mello Breyner, apresenta-se regularmente a documentação que constitui as diversificadas coleções (bibliográficas, audiovisuais, publicações periódicas, iconográficas, manuscritos) da nossa biblioteca.
Pretende-se divulgar obras de autores relevantes, não só portugueses mas também internacionais, e, com um olhar particularmente atento aos autores e temáticas de identidade e história local.
Esta rubrica visa dar a conhecer a diversidade e riqueza documental dos 35 anos de vida da Biblioteca Municipal e a promoção da leitura nas suas mais variadas literacias: cultural, científica, digital e audiovisual.
Maio 2022
“Por um Maio Moço e Florido”
Estamos em maio, o quinto mês do ano e com ele vamos em busca de memórias ancestrais nomeadamente a celebração das maias, isto é a colocação nas janelas e nas portas de flores amarelas (giestas) que acabam de florir e dar continuidade à Primavera celebrando a fertilidade e abundância da natureza.
É ao longo, deste mês que assistimos à consolidação da primavera (com jardins e campos floridos e ao advento do verão (com as temperaturas a aumentar…), mas também à celebração de datas e acontecimentos que evocam grandes momentos da nossa História e Civilização tanto a nível mundial europeia e nacional.
Começamos pelo Dia Mundial do Trabalhador (1 de maio), Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3 de maio), Dia Mundial da Língua Portuguesa e da Cultura Lusófona (5 de maio), Dia Mundial da Cruz Vermelha (8 de maio), Dia da Europa (9 de maio), Dia Mundial do Objetor de Consciência (15 de maio), Dia Mundial das Telecomunicações (17 de maio), Dia Internacional dos Museus (18 de maio), Dia da Marinha e Dia da Autonomia do Poder Local (20 de maio), Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento (21 de maio), Dia Internacional da Biodiversidade e Dia do Autor Português (22 de maio) entre outros.
Na Biblioteca Municipal Manuel Giraldes da Silva, em maio, vamos celebrar o Dia da Europa com a inauguração de uma exposição de trabalhos gráficos realizados pelos alunos da Escola Básica Dom Pedro Varela, Escola Secundária Jorge Peixinho e Escola Secundária Poeta Joaquim Serra relativo à edição 2021/2022 do Concurso Internacional Cartazes da Paz promovido pelo Lions Club Internacional e localmente pelo Lions Club do Montijo.
Num outro momento, integrado na “Festa da Flor” celebramos O Dia Mundial da Língua Portuguesa e o Dia do Autor Português, e damos localmente início às comemorações do Centenário do Nascimento de José Saramago com a apresentação da história “A Maior Flor do Mundo” escrita pelo autor em 2001. Nesta obra peculiar da sua vasta bibliografia o autor interroga-nos, afirmando: “E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?”.
Por fim, para um “maio, maduro maio” existem disponíveis na Biblioteca Municipal Manuel Giraldes da Silva os livros “Festas e Tradições Portuguesas: Maio” com textos de Soledade Martinho Costa e fotografias de Jorge Barros (Círculo de Leitores, 2002); “A Maior Flor do Mundo” de José Saramago (Porto Editora, 2014) e, ainda, no Medi@rt (CTJA) o CD “Cantigas do Maio” de José Afonso (1971).
Abril 2022
“O Diário de Anne Frank”
“O Diário de Anne Frank”, grandes memórias de ontem e de hoje…
É Abril e é neste mês que celebramos o Dia Internacional do Livro Infantil (dia 2), o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor (dia 23) e, por fim, o Dia da Liberdade (dia 25).
Perante este cenário alusivo ao livro, à leitura, à informação, ao conhecimento, às bibliotecas e, especialmente, à liberdade e paz, vamos falar de uma obra literária que se enquadra neste mês e na actual conjuntura internacional que está a abalar o Mundo (a invasão russa da Ucrânia) e que estamos a viver com grande ansiedade e preocupação…
Essa obra é “O Diário de Anne Frank” quando passam 75 anos da sua primeira edição em língua neerlandesa tendo como título “Het Achterhuis” (O anexo secreto) continuando um percurso que passa pela edição em língua alemã (1950), em língua inglesa (1952) e em português (1969) com tradução de Ilse Losa (1913-2006), escritora alemã que se exilou em Portugal.
O livro é a edição do diário da adolescente de origem judaica Anne Frank (1929-1945) durante o período de ocupação alemã da Holanda. Ao longo de cerca de dois anos (6 de julho de 1942 a 4 de agosto de 1944) Anne, no anexo secreto onde a sua família se escondeu e viveu “mergulhada”, vai escrevendo o seu diário num caderno vermelho axadrezado.
Este diário é a resposta de Anne Frank ao apelo radiofónico do governo holandês no exílio para que a população mantivesse diários e documentos relativos à ocupação nazi e assim servissem para memória futura daqueles trágicos dias…
A escrita do referido diário permitiu à autora aguentar a provação a que esteve sujeita e, especialmente, evidenciou o testemunho de uma adolescente que queria ser escritora, a qual de acordo com Ilse Losa, consegue conferir um grande poder às palavras: “o isolamento, os sacrifícios diários, as angústias, o medo e, principalmente, a morte, a pairar sobre esta criança de uma inteligência e de um espírito de observação invulgares, fizeram com que ela amadurecesse prematuramente”.
Hoje com a revisitação da guerra na Europa e as suas consequências a entrarem pelas nossas vidas, é oportuno conhecer a força das palavras da autora, particularmente, quando a liberdade é cerceada e a democracia ameaçada: “As pessoas podem mandar-nos calar, mas não podem impedir-nos de termos uma opinião. Não se pode proibir uma pessoa de ter opiniões, por mais jovem que ela seja!”.
O impacto da publicação do livro levou à sua circulação pelo mundo inteiro, atingindo mais de 30 milhões de exemplares vendidos e uma variada produção bibliográfica e audiovisual.
Na Biblioteca Municipal Manuel Giraldes da Silva temos disponíveis “O Diário de Anne Frank: versão definitiva” (Livros do Brasil), “O Diário de Anne Frank: diário gráfico”, a edição em banda desenhada da autoria de Ari Folman e David Polonsky (Porto Editora), “Quem traiu Anne Frank?” de Rosemary Sullivan e o DVD “Páginas de Liberdade (Freedom Writers) de Richard La Gravenese (2007).
É Abril e leituras mil…
Fevereiro 2022
“Os Lusíadas”, o livro eterno…
Celebram-se, em 12 de Março de 2022, os 450 anos da primeira edição da obra Os Lusíadas de Luís de Camões, que saiu em Lisboa, na oficina de António Gonçalves, em 1572. Desde então nunca mais deixaram de estar perto de nós. As edições sucederam-se ao longo dos séculos, sem interrupção.
Se a primeira edição pode evidenciar uma ideia e sensação de modéstia, quer pelo tamanho, quer pela qualidade do papel e do respetivo trabalho oficinal, a partir do século XIX fizeram-se o que podemos chamar “edições reparadoras”, em tudo diferentes das primeiras: cuidadas, aparatosas, ilustradas.
A partir do século XX, com a introdução desta obra nos programas de Português no ensino oficial, surgem as edições escolares e sucessivas gerações de professores e de alunos que podem afirmar que nunca houve programas de Português sem Camões e sobretudo sem Os Lusíadas.
De todas as edições que vieram a público, nenhuma teve tanto sucesso como a preparada por Emanuel Paulo Ramos em 1952. Nesse ano, na qualidade de professor liceal e do Colégio Militar, o referido autor trouxe a público um trabalho singular, distinguindo-se pelo apuro gráfico e pelo rigor e amplitude da informação. Simultaneamente apresentava ainda a vantagem de ser acessível: o formato de bolso, quase reproduzindo o tamanho original, e as grandes tiragens, colocavam o exemplar ao alcance da maioria das bolsas.
Hoje, devido às características prescritivas dos programas escolares, os quais orientam a aprendizagem para a realização do exame final, podemos falar no desaparecimento do livro, considerado na sua materialidade. Se antes os alunos compravam o volume e o guardavam, hoje isso constitui uma raridade.
Assim, é um facto que o desaparecimento do livro das estantes das livrarias e das necessidades imediatas dos alunos, originaram perdas consideráveis: pode-se perder desde logo a noção que Camões escreveu cerca de 8816 versos e não apenas aqueles que estão nos manuais escolares.
Mas o livro mantém-se nas bibliotecas públicas e, no nosso caso, está disponível na Biblioteca Municipal Manuel Giraldes da Silva.
É, pois, o momento de redescobrir o génio de Camões e tomar conhecimento do livro mais genial em língua portuguesa, o qual ajudou a criar a nossa língua e, também a nossa identidade nacional recorrendo à nossa história (“As armas e os barões assinalados…”) e, claro às nossas idiossincrasias (“Sem à dita de Aquiles ter enveja.”) e celebrar os quinhentos anos do seu nascimento no próximo ano de 2024.


Dezembro 2020
Jorge Peixinho: in Memoriam / organização de José Machado
Vamos falar sobre Jorge Peixinho (1940-1995) evocando a celebração do seu aniversário natalício em 20 de Janeiro.
De facto, Jorge Peixinho é, talvez, o nosso conterrâneo que mais vezes tem o seu nome plasmado na geografia da nossa cidade, a saber: num estabelecimento escolar (Escola Secundária Jorge Peixinho) num topónimo (Avenida Maestro Jorge Peixinho), na referida artéria da cidade está localizado num edifício de habitação um mural a si dedicado, e futuramente teremos um novo equipamento sócio cultural denominado “Casa da Música Maestro Jorge Peixinho”.
Na procura de providenciar o acesso a mais informação sobre tão ilustre montijense nomeadamente sobre o seu percurso artístico, académico e cívico remetemos os nossos leitores para o livro “Jorge Peixinho: in memoriam” com organização de José Machado e editado pela Editorial Caminho (2002) com o apoio da Câmara Municipal do Montijo.
O referido livro foi uma oportunidade para que o organizador reunisse a obra de Jorge Peixinho, a qual estava toda dispersa. Simultaneamente recolheu testemunhos dos seus mestres (KarlHeinz Stockhausen e Pierre Boulez), alunos (entre eles Pedro Abrunhosa [cf. p.100-102]), colaboradores e amigos seus (caso de Eugénio de Andrade [cf. p. 54-55]). Compilou textos de crítica musical, de análise e de ensaio e, por último, o estabelecimento de um valiosíssimo catálogo inédito, com a particularidade de incluir a sua produção musical de infância e juventude.
“Jorge Peixinho: in memoriam”, disponível na Biblioteca Municipal Manuel Giraldes da Silva, é um livro orientado para uma leitura tranquila, talhado para a consulta, permitindo a descoberta deste nome marcante da música portuguesa da segunda metade do século XX, pois Jorge Peixinho foi um compositor de vanguarda repetidamente premiado, um pianista exímio, um intérprete infatigável, um crítico musical e ensaísta de reconhecido mérito, um conferencista de catividade frenética, um professor de generosidade notada, mas essencialmente um instigador de novos rumos da estética musical e líder dessa mesma vanguarda em Portugal.
Junho 2020
De Aldeia Galega do Ribatejo a Montijo: 90 anos da denominação MONTIJO
Hoje, 6 de junho de 2020, assinalamos o 90º aniversário da denominação MONTIJO atribuída pelo Decreto nº 18.434 de 6 de junho de 1930 publicado no Diário do Governo, I Série, número 131 de 7 de junho de 1930.
Para História fica o explanado no preâmbulo do documento onde se refere que “Considerando que nada há que justifique o actual nome de Aldeia Galega do Ribatejo que tem o referido concelho e vila, ao qual poderá ser atribuído o de Montijo, que melhor condiz com as suas tradições históricas;” e no artigo 1º é decretado que “A vila e concelho de Aldeia Galega do Ribatejo, distrito de Setúbal, passa de ora avante a denominar-se Montijo.”
Esta decisão governamental é o resultado da iniciativa tomada pela Comissão Administrativa, presidida por Carlos Hidalgo de Gomes de Loureiro, da Câmara Municipal de após aprovação em sessão realizada a 5 de Fevereiro de 1930 enviar nessa data ofício dirigido ao Ministro do Interior onde se solicita a mudança do nome da vila e concelho e, simultaneamente, a sua elevação a concelho de 2ª ordem.
Mas esta história tem outras estórias, pois esta aspiração de alteração da denominação da vila e concelho não nasceu há noventa anos. Ela remonta ao século XIX, mais propriamente a 1881, quando em 12 de junho um movimento de 205 indivíduos nascidos e habitantes do concelho, então oficialmente conhecido com “Aldeia Gallega do Riba-Tejo” assina um requerimento, que em 19 de Junho dirigem à Câmara Municipal, no qual pedem que seja restituído o seu antigo nome de Alda.
E aqui entram as estórias à volta das possíveis denominações da nossa terra remetendo-vos para o nosso destaque de hoje em termos de livros das coleções bibliográficas da Biblioteca Municipal, a saber: Coisas da Nossa Terra: breves notícias da Villa de Aldeia Gallega do Ribatejo (1906, com edição fac-similada em 2001) da autoria de José de Sousa Rama e Vila do Montijo (1956) tendo como autor Rui de Mendonça.
Ambas as obras merecem o nosso destaque hoje a propósito da evocação do nonagésimo aniversário da denominação da vila e concelho como Montijo, pois são obras pioneiras naquilo que podemos mencionar como uma possível historiografia local e têm em comum serem fontes privilegiadas para se conhecer as estórias e a história da passagem de uma denominação com séculos de existência para outra com apenas noventa anos.
Na obra de José Sousa Rama (1906) temos o relato na primeira pessoa da criação do movimento de substituição da então denominação a partir do assumir convicto da estória de Alda, a Galega. Cinquenta anos mais tarde Rui de Mendonça (1956) no capítulo I apresenta uma interessante síntese intitulada “ O nome de Aldeia Galega na história, na tradição e na lenda”, onde retoma o que anteriormente foi escrito por José Sousa Rama criticando a sua tese assente na lenda, defende uma versão também efabulada sobre a origem do nome Aldeia Galega (Aldeia Gàlleci, oriunda de gauleses…) e conclui com a verdadeira história: a deliberação e ofício de 5 de Fevereiro e o Decreto de 6 de junho do ano de 1930.
Assim, e recorrendo à História, é de referir que o topónimo “Montijo”, esse sim é anterior à designação Aldeia Galega, e aparece em 1248, como Montigio e localiza-se no lugar, ponta e península do mesmo nome (actual localização da Base Aérea nº 6).
Por fim, a Biblioteca Municipal ao evocar, a data da denominação de Montijo está a cumprir a sua missão de informar e divulgar a história local e, também, valorizar esta efeméride e colocá-la a partir de hoje na agenda da cidade e do concelho como uma marca distintiva da nossa identidade local.
Abril 2020 (no âmbito do confinamento por contingência relacionada com a Covid-19)
Nestes dias estranhos, a Biblioteca Municipal do Montijo propõe um clássico do cinema num contexto em que ficar em confinamento social é determinante para a saúde de todos. Ao revisitar esta obra-prima de Hitchcock inevitavelmente sente-se, tal como a personagem principal do filme, a estranheza sobre a condição de se estar fechado em casa. No entanto, essa condição é também uma experiência fascinante e reflexiva.
Janela Indiscreta
Janela Indiscreta é um filme de suspense realizado por Alfred Hitchcock (1899-1980) em 1954, baseado no conto de Cornell Woodrich “It had to be murder” publicado em 1942. O filme conta a história de L.B. Jeffries (James Stewart), um fotojornalista que se encontra confinado a uma cadeira de rodas no seu apartamento por ter partido uma perna enquanto fotografava um acidente numa corrida de carros. Para matar o tédio, entre as visitas noturnas da sua namorada Lisa (Grace Kelly) e as visitas matinais da enfermeira Stella (Thelma Ritter), dedica-se a observar através de uns binóculos, a vida privada dos vizinhos a partir da janela traseira da sua casa.
Entre a vizinhança observamos personagens peculiares, como o casal recém-casado; um pianista solteiro de meia-idade; uma exuberante bailarina sempre com graciosos movimentos atléticos; a mulher que vive sozinha que Jeffries apelidou de miss “coração solitário” e um caixeiro-viajante que cuida da esposa acamada. É esta última personagem, Lars Thorwald (Raymond Burr), que vai atrair a atenção de Jeffries, quando um dia se apercebe que a sua mulher inválida desapareceu. Associado a este misterioso desaparecimento, todos os movimentos de Lars tornam-se suspeitos indiciando um potencial crime de assassinato.
Para desvendar este caso, Jeffries vai envolver a sua elegante namorada Lisa, a enfermeira Stella e o amigo Tom Doyle (Wendell Corey), um detetive bastante cético quanto às suspeitas da real ocorrência de crime. O desenrolar dos acontecimentos, após várias peripécias, vão conduzir a um dos finais mais inesquecíveis e marcantes da história do cinema, com o cunho que celebrizou Hitchcock: o suspense.
Este filme tem a particularidade de ser um dos primeiros a abordar o tema do voyeurismo, primeiro através do olho da personagem principal, depois através dos seus binóculos e por fim, pela teleobjetiva da máquina fotográfica. Para reforçar este efeito, toda a ação do filme desenvolve-se sempre a partir do apartamento de Jeffries, obrigando o espectador a observar o desenrolar da história a partir da visão do fotógrafo.
Poderá requisitar o filme “Janela Indiscreta” disponível em DVD na BMM (Medi@rt in CTJA).
Título original: Rear Window
Realização: Alfred Hitchcock
Argumento: John Michael Hayes
Elenco: James Stewart, Grace Kelly, Thelma Ritter, Wendell Corey e Raymond Burr
Género: Suspense, Thriller
Duração: 112 minutos